Castigo
para pensar nem pensar!
Pense bem antes de mandar seu
filho pensar sobre um erro que ele cometeu. Você acha mesmo que ele está
preparado pra isso?
19.06.2013
Foto Carol Bastos, mãe de Bruno e Felipe
Castigo: pena ou
punição que se inflige a pessoa ou animal.
Pensar: submeter ao processo de raciocínio lógico; ter atividade psíquica consciente e organizada; exercer a capacidade de julgamento, dedução ou concepção; refletir sobre, ponderar, pesar.
Pensar: submeter ao processo de raciocínio lógico; ter atividade psíquica consciente e organizada; exercer a capacidade de julgamento, dedução ou concepção; refletir sobre, ponderar, pesar.
Então,
vamos pensar juntas. Você vê alguma relação possível entre o substantivo e o
verbo descritos acima pelo dicionário? Enquanto o castigo representa um ato de
repreensão, portanto, algo que não é bem-vindo (afinal, ninguém quer ficar de
castigo), o pensar indica uma atitude enriquecedora, profunda, madura e
reveladora. Não é assim? Mas aí vêm as supernannies (as superbabás que acham
que detêm as chaves secretas da educação) com seus manuais e decretam “quando
seu filho fizer algo errado, coloque-o no cantinho do castigo para pensar”. Ok,
pensemos nós que somos adultas: Você acha mesmo que seu pequeno de 3 anos vai
usar aqueles minutos de isolamento pensando no que fez, refletindo sobre as
consequências dos seus atos e voltar dali uma criança melhor, mais bem-educada?
Não, não vai. E quem faz esta afirmação são os especialistas no assunto. “Botar
uma criança pequena para pensar no que fez só serve para dar uns minutos de
descanso para a mãe, não tem função educativa, porque a criança só consegue
pensar sobre o que fez e só compreende o sentido moral das regras e dos valores
a partir dos 6, 7 anos”, explica nossa colunista, a psicóloga e pedagoga
Elizabeth Monteiro, mãe de Gabriela, Samuel, Tarsila e Francisco. “Não gosto
das supernannies, o que elas fazem é adestramento, e quem faz isso com uma
criança não conhece seu desenvolvimento cognitivo, psíquico e intelectual.” Do
ponto de vista emocional, deixar a criança sozinha não deveria ser um castigo,
mas um privilégio. “Quando a gente coloca a criança para pensar mostra que não
quer ficar com ela. E se ela não pensou quando bateu ou mordeu ou fez algo
errado, por que vai pensar agora? Como dizia minha mãe, ela fica pensando na
morte da bezerra e não no que você pediu. Terminado o período de prisão, ela
fica livre para fazer tudo de novo. Não houve uma atitude educacional” pondera
a doutora em psicologia escolar Luciene Tognetta, mãe do Gabriel.
O pensar,
que é uma coisa tão boa, uma elaboração, um sinal de inteligência e crítica,
acaba virando um castigo. Como a criança só passa a refletir realmente sobre
seus atos a partir dos 6 anos, sabe o que ela faz quando vai parar no tal do
cantinho? Cria mecanismos automáticos para se livrar da punição. “Já pensei,
posso sair agora?”, diz sem acreditar no que está dizendo. O papel dos pais é
fazer o filho entender os próprios sentimentos para que ele aprenda a nomear
suas emoções. Dizer a ele frases do tipo:“Você está triste porque seu brinquedo
quebrou, você está irritado porque quer dormir, você está bravo porque eu não
deixei você fazer o que queria. Essa é a principal função da mãe até os 5 anos.
É muito mais importante do que fazer a criança pensar sobre um erro. Você está
com ela criando associações”, ensina Betty.
- Criança é do contra
O castigo
é importante, sim, e funciona desde que tenha uma correspondência direta com o
erro. Ele deve ser educativo e não punitivo. “A partir dos 3 anos, a criança já
fica mais solta e tem percepção do que agrada ou não os pais. Antes disso, o
“não “ é muito importante, porque é o primeiro organizador psíquico. Até os 4,
5 anos de idade, a criança é naturalmente oposicionista, em outras palavras, é
do contra. Acha que é o centro do universo e as pessoas estão ali para
servi-la”, explica Betty. Quantas vezes por dia seu filho diz “mãe, tô com
fome”, “mãe, pega isso pra mim”, "mãe, vem aqui"?
Segundo a
psicóloga, essa é uma característica egocêntrica, o que é bem diferente de ser
egoísta. E aí os pais se confundem, rotulando o filho de egoísta por não querer
dividir o brinquedo com um amigo, por exemplo. “Nunca se deve rotular a
criança, porque o rótulo é pra sempre”, diz Betty.
O uso do
“não”, no entanto, deveria ser menos banalizado. Há mães que dizem tantos, mas
tantos, diariamente, que a criança nem dá mais importância. Diante de uma
birra, uma boa alternativa é desviar o foco dela para outra atividade. “Mães
que falam “não” demais acabam perdendo a autoridade. Ele precisa ser deixado
para situações importantes, que não faltarão ao longo da infância e da vida
adulta. Se o filho está mexendo na sua porcelana – que pra ele nada mais é do
que um brinquedo –, tire o objeto de suas mãos, diga que é algo de que você
gosta muito, que não quer que quebre e ponha em um lugar inacessível. Assim,
você irá economizar muitos nãos inúteis.
- Sujou? Limpa!
A criança
sujou a parede? Então, faça-a limpá- la – do seu jeito, claro, sem exigir um
trabalho impecável, pois o que vale aqui é a intenção mesmo. Deu um tapa em
você? Segure as mãozinhas dela, olhe bem nos seus olhos e diga “eu não quero
que você faça isso, a mamãe não faz isso (desde que você não faça mesmo). Estou
muito brava”. E fique séria, seja firme. Essa é a tal correspondência direta
com o erro. Desde muito cedo, a criança percebe quando seu comportamento deixa
a mãe triste ou feliz. Por isso, é tão importante sinalizar imediatamente.
“Você fez isso, é feio, a mamãe não gosta”. Mas atenção: mostrar que não gosta
do que ela fez e jamais deixar a mínima dúvida do seu amor por ela. Nunca dizer
“a mamãe não gosta de você porque você fez isso”. Nunca!
Um grande
equívoco é os pais punirem o filho privando-o de alguma atividade que lhe dá
prazer e não tem absolutamente nada a ver com o erro cometido. Vocês foram ao
supermercado, ele fez birra porque queria determinado chocolate que você não
comprou e então você tira o videogame por dois dias. “Mas qual é a relação da
birra com o jogo? Nenhuma. Então, o castigo é dizer que você não vai mais
levá-lo porque ele não sabe se comportar naquele lugar”, ensina Betty.
Agora, e a criança está mal na escola por causa do videogame ou da
televisão, aí sim é preciso interferir. “Sempre haverá uma escolha a fazer. A
mãe pode dar a opção de ele estudar e depois ver TV ou ficar sem TV”, sugere Luciene.
“O castigo não deve ser dado sem que a criança tenha condição de reparar o
erro, de se responsabilizar por ele, por isso, falou um palavrão, deve
conversar com quem ofendeu.” E não é isolando a criança em um cantinho que você
vai fazê-la entender um erro. O pior é ela até se acostumar com aquela punição
e esperar por ela com a maior naturalidade. “Há crianças que se conformam,
tanto faz ficar ou não de castigo, e há aquelas dão um jeitinho de fazer algo
errado escondidas dos pais, quando eles não estão vendo”, conta Luciene, que
deixa uma pergunta: E quando essa criança crescer ela vai achar que pode fazer
coisas erradas quando ninguém estiver olhando? Essa é pra gente pensar!
- Combinações
Com
crianças maiores, é possível fazer combinações, mas que sejam boas para os dois
lados. De horários de estudo, por exemplo. Mas não adianta você definir um
período em que seu filho vai estar interessado em outra coisa e não vai
estudar. Pergunte a le, deixe-o decidir quando se sente melhor para enfiar a
cara nos livros. Mas também deixe claro que combinados não se quebram, porque
aí quebra-se algo essencial em qualquer relação: a confiança.
Dicas
de experts
·
Mude o
foco:
Quando a criança insiste em mexer
em algo que não deve, distraia a atenção dela com outra coisa em vez de ficar
gritando “Não mexe”.
·
Combine:
Seu filho tem que estudar, mas
deixe que ele escolha o horário mais conveniente, desde que você concorde com
isso.
·
Não faça:
Colocar a criança de castigo no
berço vai fazê-la associar o sono a algo ruim.
·
Não
rotule:
Se você ficar chamando seu filho
de egoísta, preguiçoso, burro, é isso que ele vai ser. O jovem e a criança não
sabem quem são, é o adulto que diz quem ele é.
·
Fique
fora:
Se seus filhos estão brigando,
não interfira. Eles querem chamar sua atenção.
·
Não a
deixe chorando:
A criança introjeta uma sensação
de abandono.O bebê precisa do toque, do colo, do cheiro, dasensação corporal.
Consultoria
Elizabeth Monteiro e Luciene Tognetta
(Texto publicado na revista Pais&Filhos.
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