segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Profissionais aprender a brincar

FELIPE GUTIERREZ para Jornal Folha de São Paulo
Matéria publicada em 26/8/2012

Eles não sabem brincar. Ou melhor: eles não sabem promover e oferecer o espaço e o ambiente lúdicos para que as crianças brinquem de uma forma espontânea.
“Eles”, no caso, são profissionais que trabalham com crianças – educadores, terapeutas e pedagogos.
A crítica é de Cristina Imaguire, 32, brasileira que trabalha em Londres como “playworker” (palavra em inglês para profissional da brincadeira).
Ela esteve em São Paulo, onde ministrou um curso em que passou os princípios do método: durante as brincadeiras, os adultos não devem dar sugestões de atividades, não devem tentar ensinar algo com a brincadeira e só participam se a criança pedir explicitamente.

Luiza Schmitt brinca com a mãe, Denise Schmitt, no último dia de aulas de “playwork”

“Pode parecer simples, mas para os adultos é um exercício difícil não ditar regras”, dias uma das participantes do curso, a psicopedagoga Denise Garcia Schmitt, 35. Ela é dona de uma empresa que monta brinquedotecas e que estimula brincadeiras entre crianças.
Schmitt afirma que, geralmente, contrata estudantes de pedagogia, psicologia ou educação física e que a grande maioria é “muito teórica”. “Faço entrevista de contratação sentada no chão, quero ver se a pessoa tem aversão com barulho, à sujeira. De cada 10 candidatos, consigo 2 pessoas”, afirma ela.
Mas nem todos pensam como Schmitt, dia Marilena Flores Martins, 69, presidente da IPA (International Play Association) do Brasil. “Ainda são poucos contratantes que valorizam profissionais que sabem usar as técnicas de ‘playworking’.”
Ela considera que quem sabe incentivar brincadeiras poderia trabalhar em creches e escolas e também em hospitais, clubes, shoppings, condomínios, bufês etc.
Cursos de “playwork”, explica Martins, surgem eventualmente. A Associação Brasileira de Brinquedotecas e a própria IPA são entidades que os oferecem.

OBSERVAÇÃO
A última aula do curso, que foi oferecido neste mês em São Paulo, foi em uma praça.
Os alunos levaram os filhos, ofereceram a eles materiais diversos e, quando as crianças perguntavam o que fazer com aquilo, ouviam a resposta “o que você quiser”.
Com tecidos e gravetos, construíram barracas, arcos e flechas e acenderam uma pequena fogueira.
Tudo isso sendo observadas. O “playwork” incentiva que os profissionais vejam as crianças brincando e a dinâmica entre elas para descobrir traços da personalidade.
O terapeuta Roberto Ricardi Costard, 37, participante do curso, saiu com a intenção de montar grupos de clientes para ver como é a “sociabilização sem a interferência do adulto”. O palpite é que dessa forma “dá para pegar muita informação” sobre como a criança se relaciona com os outros e se é criativa.


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